Segundo Savannah, ainda não existem dados oficiais sobre as conversões, mas, conforme disse, boa parte delas vem sendo registrada especialmente por igrejas de países da região ocidental do continente europeu — que já fizeram inúmeros batismos em massa em piscinas municipais para converter os exilados. E por que tantos muçulmanos estariam interessados em adotar outra religião?
Um dia de Allah, o outro, de Cristo.
Um seguidor fiel simplesmente não decide mudar de religião assim, de uma hora para outra, e é claro que, no caso dos refugiados que migraram para a Europa, as motivações são muito complexas. Há quem acredite que muitos se desiludiram ao ver como o islã foi usado em seus países de origem como ferramenta política e de fomentação ao ódio.
Milhares já se converteram ao cristianismo
Outros tantos defendem que a razão seria o ardente desejo de pertencer a uma comunidade novamente. Conforme explicou uma reverenda britânica que conduziu várias conversões, muitas delas são encorajadas pela vontade de fazer parte de uma “família” onde não existam oficiais de fronteira, que não exija a apresentação de documentos e que não possua centros de detenção para imigrantes.
Entretanto, existe mais uma motivação importante para as conversões: o medo. De acordo com Savannah, as leis europeias não permitem que imigrantes sejam deportados se existe algum risco de que eles sofram perseguição religiosa em seus países de origem por serem convertidos. Portanto, muitos muçulmanos estão se convertendo ao cristianismo por puro medo de terem seus pedidos de asilo recusados — e serem obrigados a voltar para casa.
Caçando fiéis
Se não fosse pela guerra — e todos os problemas sociais e econômicas que ela acarreta —, boa parte dos refugiados certamente preferiria viver em seus países em vez de tentar a vida em nações que, na maioria das vezes, não os recebem de braços abertos. Entretanto, nas circunstâncias atuais, para muitos deles é arriscado demais retornar a seus lares.
A igreja também tem interesse
E as igrejas europeias já se ligaram dessa “brecha” religiosa/legal e estão começando a exigir que os interessados em seguir adiante com as conversões frequentem cursinhos preparatórios para garantir que o desejo de adotar o cristianismo é genuíno. Na Catedral de Liverpool, por exemplo, os refugiados que buscam asilo devem apresentar a documentação do pedido e participar de cinco aulas para se batizar e de 12 para receber a crisma.
Aliás, da mesma forma que existem motivações além da fé propriamente dita por parte dos refugiados para se converterem, a mesma coisa pode ser dita das igrejas cristãs — já que, com a crescente queda no número de fiéis no Ocidente, elas estão aproveitando a oportunidade para conquistar novos seguidores.
Certo ou errado?
Segundo alguns críticos — como um pastor holandês chamado Gerhard Scholte —, o que muitas igrejas estão fazendo é tirar proveito de pessoas em posições vulneráveis para aumentar os números de fiéis, e isso não é certo. O religioso disse que prefere não incentivar as conversões e unicamente oferece a opção quando ela pode salvar uma vida.
O tema está gerando muita polêmica
Por outro lado, muitos líderes religiosos não vêm qualquer problema na “troca de favores” entre igreja e refugiados e acreditam que o maior desafio, na verdade, é lidar com a forma como os imigrantes são tratados pelos demais membros das congregações após as conversões. Afinal, apesar de todo aquele papo de fazer parte de uma família sem fronteiras e leis migratórias, também existe muita oposição com respeito aos recém-chegados.
Assim, ao mesmo tempo que as igrejas europeias estão conseguindo angariar novos fiéis, muitos membros antigos estão deixando de frequentar as congregações por conta dos imigrantes e das “irregularidades” que vêm acontecendo.
Voltar para casa pode significar a morte certa
No caso dos refugiados, apesar dos pesares, não é culpa deles que existam brechas no sistema e, em sua situação — de vida ou morte, literalmente —, não seria justificável aproveitar a oportunidade? Já no caso das igrejas, não são elas que deveriam ter suas portas sempre abertas para quem quer que seja? Além disso, no nosso caso, quem somos nós para julgar a decisão dos outros? Ou não?