Estudante de teologia islâmica
Fonte com as bibliografias: http://www.sunnismo.com/preguntas/cuales-son-las-diferencias-entre-sunnismo-y-shiismo
Retirado do site http://iqaraislam.com/5151-2/
Nas redes sociais e alguns sites da internet, se difundem imagens muito espetaculares de homens e mulheres se golpeando com espadas até sangrarem ilustradas com mensagens como: ‘’O Xiismo não é Islam’’.
Este tipo de propaganda impede o pensamento e provoca mais as emoções que a razão, e sua efetividade para defender a doutrina sunita é nula. O Alcorão nos pede uma ou outra vez para reflexionarmos e recorrermos a razão. E também o Alcorão nos adverte:
‘’Ó fiéis, sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho, a bem da justiça; que o ódio aos demais não vos impulsione a serdes injustos para com eles. Sede justos, porque isso está mais próximo da piedade, e temei a Deus, porque Ele está bem inteirado de tudo quanto fazeis.’’ (Alcorão 5:8)
Então, para entrarmos no tema de maneira inteligente e racional, devemos nos perguntar: ‘’O que faz que com que alguém NÃO seja xiita?
Quando falamos de xiismo hoje, nos referimos a doutrina duodecimana, que é a doutrina seguida por 99% dos xiitas atualmente, e é a religião oficial do Estado iraniano. Historicamente, existem muitas seitas diferentes entre os xiitas, com crenças muito distintas. Porém hoje iremos nos focar no grupo amplamente majoritário de nossa época.
Não falaremos aqui do termo ‘’shia’’ em si porque este termo designa muitas coisas diferentes; a principio, se refere aos muçulmanos que se aliaram com o Imam Ali durante a primeira fitna (divisão). Não é útil aqui nos aprofundarmos sobre esta primeira fitna, porém, é importante destacar que quase a totalidade dos sahabas (companheiros do profeta) se juntaram ao partido de Ali neste conflito, e foram chamados então: ‘’partidários de Ali’’ (‘’shiat al-Ali’’ em árabe, dai vem o termo ‘’xiita’’). Sem que esta denominação tenha nenhum tipo de impacto sobre a doutrina ou as crenças dos companheiros do profeta, e nem de Ali. Segundo quase a totalidade dos sábios muçulmanos sunitas, na guerra que se sucedeu entre Ali e Muawiya, Ali tinha razão. Porém diferentemente dos duodecimanos, nós (sunitas) não acusamos Muawiya de ser um incrédulo, por que como o próprio Imam Ali disse: ‘Somos uma parte dos muçulmanos, e eles são outra parte dos muçulmanos’’. Então. dizemos que Muawiya se equivocou e que Ali tinha razão, nada mais.
Então, temos aqui uma chave para entender a história islâmica, que é sempre levar em contar que os termos significam coisas distintas nas diferentes épocas em que são utilizados.
Depois desta divisão entre Ali e Muawiya, qualquer teólogo ou crente que tivesse uma afeição particular pela família do profeta era chamado pelas autoridades injustas e seus apoiantes de; ‘’’shia’’ ou ‘’xiita’’.
E foi durante todo o período omíada passível de condenação a morte o simples fato de chamar-se Ali, ou de não querer dizer depois da menção a Ali ‘’que a maldição de Allah esteja com ele’’. É por isto que grandes sábios sunitas como o Imam Malik, o Imam Abu Hanifa e o Imam Shafi’i foram chamados de ‘’shia’’ pelos injustos, porque a família do profeta, e seus descendentes corretos, sempre foram intransigentes em suas criticas aos poderes injustos, e foram apoiados nisso pelos grandes sábios piedosos do povo da sunnah.
Portanto, há de se levar em conta a diferença entre os que foram historicamente chamados ‘’shiat al-Ali’’ (partidários de Ali) na época da primeira fitna, e os que se denominam e são chamados de ‘’shia’’ ou ‘’xiitas’’’ hoje em dia. Os de hoje pregam uma doutrina conhecida como duodecimana.
Esta doutrina duodecimana tem como eixo fundamental trés pontos que fazem com que se alguém não adere a elas, não é xiita:
1- A doutrina da sucessão do imamato:
Esta é a chave fundamental para entender todo conflito de sunitas vs. xiitas.
Nós sunitas cremos que o profeta Muhammad (que a paz e as bençãos de Allah estejam sobre ele) não veio para estabelecer um poder politico ou uma dinastia: a direção politica da comunidade (ummah) está nas mãos desta mesma comunidade, e então são os muçulmanos que podem eleger seus próprios lideres.
Para dar um exemplo concreto: os xiitas acreditam que o profeta Muhammad (que a paz esteja sobre ele), designou seu primo e genro Ali como dirigente da comunidade islâmica após sua morte. E agregam nisto que ele designou 12 lideres no total para dirigir a comunidade, cada um sendo descendente dele, por Ali e Fátima, sua filha. Como o sucessor está designado pelo profeta e por Allah, segundo os xiitas, dai nasce então o ódio que manifestam pelos grandes companheiros do profeta (que Allah esteja satisfeito com todos eles).
Nós sunitas aceitamos que a comunidade elegeu Abu Bakr como dirigente politico da comunidade. E depois, foi eleito Omar Ibn al-Khattab, e logo após Uthman e finalmente Ali, e logo Hassan, filho de Ali, somente por 6 meses (que Allah esteja satisfeito com todos eles). Confirmando o que profetizou o profeta Muhammad: ‘’Depois de mim, o Califado durará 30 anos, e logo só haverá monarquia.’’ (1)
O califado então significa aqui os dirigentes políticos que seguiram retamente o exemplo de nosso profeta (que a paz esteja sobre ele) .
2- A doutrina de que o Alcorão não está completo:
A crença de que o Alcorão que temos é adulterado é muito presente nos textos primários do xiismo (o ‘’suposto’’ Alcorão de Fátima, que está mencionado amplamente na principal coleção de hadiths xiitas: Al-Kafi do Imam al-Kulayni).
Como o xiismo mudou muito em suas doutrinas ao passar dos séculos, sobre tudo desde da reforma racionalista chamada ‘’usooli’’, agora a doutrina da quase totalidade dos xiitas é de dizer que o Alcorão esta completo, porém que a interpretação correta, é propriedade de seus 12 imames, porque segundo eles são infaliveis (ma’sum), como é o profeta Muhammad para nó os sunitas.
3- O Regresso (al-Raja)
Estas três crenças, estrangeiras ao Islam, teem suas origens em fontes destintas segundo teorias destintas. A explicação que define meu professor, sheykh Islam ibn Ahmad, é que um judeu de origem iemenita, Ibn Saba, é responsável pela introdução destas ideias dentro do Islam para dividir os muçulmanos. É coerente com o fato de que estas trés crenças existem de uma forma similar no judaísmo.
Para entender melhor isso, pode-se dividir os partidários de Ali na época da grande fitna (divisão) em trés grupos: os companheiros, os extremistas de Ibn Saba e os extremistas khawarij.
Os extremistas de Ibn Saba eram os que pregavam as trés crenças anteriormente mencionadas, e os extremistas khawarij são os que depois de Ali e Muawiya terem feito um pacto de paz, se separaram de ambos e disseram que ambos os lados haviam deixado a lei de Deus pela leia dos homens, e que então eram incrédulos. Seus descendentes ideológicos são os que hoje em dia pregam que os muçulmanos que pecam não podem ser chamados de muçulmanos.
Então, quando falamos hoje dos ‘’xiitas’’, não estamos falando dos que seguem o Imam Ali e a família do profeta, e sim dos extremistas que seguem Ibn Saba e seus desvios.
Todos os muçulmanos devem seguir e amar Ali, bem como a família do profeta.
Espero que estas explicações contribuam coma a difusão do amor pela família do profeta entre os sunitas, porque nem Ali, nem Hassan, nem Hussein e nem Fátima (que a paz esteja com todos eles (2) ) e nenhum dos grandes piedosos e exemplos que os xiitas tomam como modelo tinham estas três crenças anteriormente mencionadas, existem numerosas provas disso, porém uma muito relevante é que Ali (alayhi salam) nomeou seu próprios filhos de Abu Bakr e Omar, como também seu filho o Imam Hussein o fez com seus próprios filhos. Isto como sinais para as gerações seguintes que respeitavam os nobres companheiros do profeta.
A pior injustiça e o melhor serviço a se fazer aos xiitas, é dizer que amar a família do profeta (ahlul-bayt) é algo dos xiitas, e como sunitas não deveríamos falar isto.